segunda-feira, 16 de novembro de 2020
"O sol há de brilhar mais uma vez"
quarta-feira, 4 de novembro de 2020
“Só quem já morreu na fogueira Sabe o que é ser carvão”
quinta-feira, 15 de outubro de 2020
Nada a comemorar.
Mais um dia 15 de outubro e, antes mesmo dele chegar, já via postagens nas redes sociais enaltecendo a profissão de professor. Há algumas semanas, no entanto, esse profissional era tachado de vagabundo por não querer trabalhar e, há alguns anos, era menosprezado e ameaçado, um doutrinador. De doutrinador a vagabundo, alguns insistem ainda em santificá-lo. Cansa, gente! Não que eu não queira ser parabenizada, todos nós gostamos de um mimo, mas não tem sido fácil e não vou, como dizia minha mãe, “colocar panos quentes”.A situação do professor é muito parecida com a de uma mulher vítima de violência, apanha, apanha e apanha, depois aceita o parceiro com o buquê de flores no dia do aniversário. Confesso: tem me faltado romantismo. Mil desculpas, queridos companheiros e queridas companheiras de trabalho, mas também acho uma chatice essas postagens apelativas que reforçam que nossa profissão é a mais importante do planeta. Não, não é. Hoje talvez seja a de ambientalista. Daí vem você com a historinha: “mas quem ensina o ambientalista?” Menos, ambientalistas ensinam ambientalistas, engenheiros ensinam engenheiros. Sendo bem sincera, só a de alfabetizador ensina todo mundo. Simples. Na verdade, não existe uma profissão mais importante que outra, pois ninguém ensina sozinho. Ser professor é um trabalho em equipe, interdisciplinar, precisa ir além da sala de aula e envolver a família e a sociedade. Caso contrário, é um fracasso. Não se iludam, ser professor é um estado, não caiam na armadilha da meritocracia, não aceitem um altar, afinal, assumam a sala de aula. Quando tentam valorar o professor, ora o coisificam, ora o santificam e, por isso, a profissão e o profissional de sala de aula (não o de educação) não é levado a sério.Uma grande maioria das pessoas acredita que professor vive de ar e de amor. Um dia, na saída de um restaurante, um conhecido me falou que, na próxima reencarnação, seria professor, para se aposentar mais cedo e trabalhar menos. Tive vontade de avançar no pescoço da criatura, mas me contive e nem me lembro do que falei, nessas horas perco o filtro. E se antes da pandemia já havia, nas redes sociais, muitos especialistas em linguística, cientistas gabaritados e juízes, de beca e martelo na mão, além de escritores, obviamente, neste período de quase retorno, a situação se agrava, porque pais e mães descobriram, em casa, tendo que acompanhar seus filhos nas duras aulas on-line, que ser professor e professora não é para qualquer um. Descobriram que nem filhos e filhas não são santos, muito menos seus professores e professoras. Sentem na pele as muitas dificuldades que envolvem a educação em um país que só lhe dá a devida atenção em período eleitoral. Por isso que hoje como não posso andar tranquilamente por aí, não vou ter vergonha de ser feliz e, como professora e educadora há muitos anos na luta, permanecerei consciente de que rosas a gente planta e respeito se conquista.Enfim, no bairro em que moro há umas dez igrejas e apenas uma escola. Há lojas de tudo, mas nenhuma livraria. Este é o Brasil que acredita em milagres, não acredita na educação, sonha em ganhar na trimania, ou na megasena, ir para a Disney assistir ao falso Mickey Mouse. Podem me chamar de amarga, sem problemas. Um país laico, em que um único deus está acima de todos está fadado à miséria educacional. Não temos o que comemorar.
terça-feira, 22 de setembro de 2020
Teatro do cotidiano
domingo, 20 de setembro de 2020
Sobre Marias
Eu e Fátima Teles fomos convidadas para uma live do "Coletivo Mulheres que Escrevem", promovida, pela amiga e escritora em comum, Ana Laurindo. Lá, trocamos Marias. Ela leu um trecho de seu livro "Lições de Maria", já eu li um de meus poemas do livro "De Choros e Velas". Marias ficcionais juntaram-se a outras Marias e filhas de Maria. Eu, do lado de cá, do sul do país, apoiada em Anita Garibaldi e Antonieta de Barros, ela, do lado de lá, do nordeste, abraçada a Maria Tomásia, Maria Bonita e Maria Firmina dos Reis. Trocamos endereços e livros e nos reconhecemos em uma luta mais que feminina.
Moradora de Brejo Santo, Ceará, Fátima Teles é professora, assistente social, escritora e mestranda em Políticas Públicas. Publicou também "Alumbramento", "A Cidade que veio das Àguas" e "Brejo Santo: Revisitando o passado e construindo o presente" e hoje possui um canal no youtube em que apresenta e lê outros escritores, além de textos de sua autoria. Ler "Lições de Maria" (Fortaleza: Premius Editora, 2019) foi um acalanto. É uma leitura leve e necessária para antes, durante e após pandemia, afinal, no país inteiro, têm-se mantidos os casos de violência contra a mulher.
Nove Marias empoderam a Maria professora que ensina a mulher a redescobrir-se. Enxerguei-me naquela Maria que, ao despertar, encontra força, espiritualidade, sabedoria, liberdade e aprende, com o silêncio e o tempo, a desapegar, não só de objetos, mas de pessoas, afinal, "ninguém é de ninguém". No livro, há Marias que se fragmentam para se consolidarem. E Maria torna-se sincera e ela mesma, quando consegue discernir ilusão e realidade, mentira, falsidade e verdade. Passa a viver atenta e caminha sem olhar para trás.
Como "tudo vale a pena quando a alma não é pequena", a Maria, da Fátima, de muitos sobrenomes e que está em cada uma de nós, é a construção de uma mulher que se empodera, que chora com Clarice, no entanto, merece viver e amar como outra qualquer do planeta. Com uma linguagem figurada e leve, o feminismo perpassa, diria que até disfarçado na capa dura de tom lilás, pela luta que a mulher ainda tem que travar, primeiro com ela mesma, depois com o outro. Respinga, nas entrelinhas, um "se eu fosse eu", de Clarice Lispector, um "se", no livro, que só se descobre lendo, porque "de boas intenções o inferno está cheio", não é mesmo, Maria de Fátima Araújo Teles?
São José da Terra Firme, 20 de setembro de 2020.
sexta-feira, 18 de setembro de 2020
Eu, uma mandriona
Realmente, eu devo ser uma pessoa muito preguiçosa, porque alguém que escolhe ser professor só pode ser muiiiiiiito preguiçoso, não é mesmo? Já ouvia que ser professor não era lá uma profissão muito valorizada, além disso, como estudante de escola e faculdade públicas, sabia que a luta era grande para se tentar valorizar o que o país pouco dava valor: a educação. Foi preguiça ler e escrever, por que não fiz algo braçal?
Realmente, eu devo ser muito preguiçosa, porque, ainda no início da graduação, comecei a enfrentar uma sala de aula repleta de alunos. No primeiro contrato da prefeitura municipal de Florianópolis, saía do centro para dar aula na Escola Batista Pereira no Ribeirão da Ilha, logo depois, me inscrevi para professora substituta para a rede estadual. Como era jovem e com pouca experiência, só consegui aula de Inglês no Zulma Becker. Para Português havia muitos candidatos para poucas vagas. Nem almoçava, pegava o busão da UFSC, descia na prainha, pegava outro busão para Santo Amaro da Imperatriz, quase sempre abarrotado de gente. Chegava na escola e comia um lanche que as merendeiras guardavam pra mim. Putz. Quanta preguiça! Por que não levava meu almoço?
Não parei mais, realmente, coisa de gente preguiçosa, por que não mudou de profissão? E só não foram muitas as escolas públicas, porque me efetivei cedo: Nereu Ramos, Ivo Silveira, Francisco Tolentino. Pouco fui professora "acetansa" no estado, por que só preguiçoso mesmo para se sujeitar a não ter quase direito nenhum, né? Ah! Preguiçoso e tanso. Ser professor efetivo também é sinal de preguiça, sabe como é, funcionário público que, segundo um tal ministro, é tudo parasita. E quando se filia a um sindicato então, hein! Péssima combinação!
E como todo preguiçoso gosta de trabalho manso e fácil, paralelamente ao estado, ocupava o tempo restante na rede privada. E cá entre nós, todo professor é burro, então, precisava estudar, estudar e estudar. Fui fazer mestrado, doutorado e, detalhe, em sala de aula e grávida. Como? Ainda me perguntam? Professores não trabalham, gente, professoras muito menos. Simples assim. Por que elas não ficam em casa cuidando dos filhos e dos maridos? Bando de preguiçosas! E essa história de preparar e fazer plano de aula, trabalhar em dois e três lugares para complementar o salário é conversa de esquerdista, sindicalista, comunista, por que não trabalham, as mulheres, por amor à profissão?
Realmente, sou muito preguiçosa, com três meses de férias durante esses anos todos, por que ainda não fui trabalhar, de graça pra algum político por puro patriotismo? Hoje, quem sabe, eu seria uma assessora de um desses deputados aí que dão o sangue pelo "brazil", ou poderia, nas últimas eleições, ter me filiado a certo partido repleto de gente trabalhadeira e bem intencionada, que odeia mamadeira de piroca. Culpa de Freud e de um certo partido que governou para gente preguiçosa, tudo culpa de professor de humanas que não ensina a pescar.
Tem que ser muito preguiçosa, tansa e burra, né? Por que diabos não dei uma de louca e me aposentei aos 33 anos com salário integral?
Vai trabalhar, vagabunda. Lembra: nada está tão ruim que não possa piorar.
São José da Terra Firme, 18 de setembro de 2020.
terça-feira, 11 de agosto de 2020
Rir para não chorar, um clichê, fazer o quê?
De repente me vejo, há quase cinco meses, em uma sala de
aula na minha própria casa: um quadro branco, canetas coloridas, um apagador,
um computador e três aplicativos para gravação e edição de vídeo. Perco a noção de vida privada e o tempo relativiza-se ainda mais.
Ao comparar a minha primeira videoaula à atual, percebo uma
considerável evolução: título, legenda e o fato de não precisar mais gravar
tantas vezes um mesmo conteúdo. Segurança e conforto. Sinto-me quase uma
profissional da área, já penso até em mudar de profissão, mas temo a concorrência (hehehehehe). Acostumo-me ao novo espaço improvisado, diverso e solitário.
Não tenho mais expectativa pela chegada da sexta-feira, tampouco a
segunda me causa ansiedade, pois nenhum sinal me avisa o início ou o fim das
aulas que, na verdade, como sou prevenida já estão programadas. Caso fique doente, apesar de me manter afastada do convívio social, já tenho um mês
pronto , sem aula meus alunos não ficam.
E eu, que nunca fui saudosista, sinto saudades de ter
horário para acordar, de me arrumar e ir para o trabalho, afinal, nos últimos
tempos, da cintura para baixo pouco preciso me preocupar, dou aulas de chinelos
e me sinto em casa, mesmo parcialmente fora dela. Sinto
saudades dos recreios na sala dos professores, daquele tempo curto de 15 minutos que
nos faz respirar para um café, um papo e um banheiro, e até das discussões que,
às vezes, rolam, além de, lógico, das combinações do tipo: “o que faremos neste
final de semana?” Hoje vale um: “Fica em casa, seu mané”. Sem samba. Sem
encontro para um chopinho. Sem cinema. Sem sarau e sem roda de choro. Putz. Não
aguento mais minha tevê. O Netflix, tornou-se um enlatado, resultado: assinei a Amazon Prime e já recorri até ao aposentado DVD. A ansiedade tem sido minha melhor amiga,
roer unhas voltou a ser um hábito cotidiano e o vidro de rolhas de vinho enche
rapidamente. A casa já precisa de uma nova faxina, só que estou achando tudo meio sem
graça. Olho os dias lindos e só penso em quando vou poder sair, sentar em um
café para escrever, pois minha inspiração está nas ruas, nos passos que dou,
nas pessoas que encontro, na vida lá fora. Conversas
e reuniões pelo meet com vozes falhando, milhares de lives dia e noite,
e-mails, recados no whats, no face, no insta, bah!! Tudo isso cansa. Cansa o
contato frio com os alunos no classroom, até mesmo as postagens no google
drive. E a falta de contato, do olho no olho, do toque, das vezes que tento fazer
meus alunos rirem para a aula ficar menos chata, e até de quando canto para eles.
Sinto saudades de momentos bons, e até dos ruins: “Profe, é pra copiar?”
Afffff!
O fato é que a quarentena se prolonga, a curva parece nunca chegar
ao fim, e o que era para ser um mês mantém-se e talvez ultrapasse o
ano. Talvez passemos a virada em nossos quadrados, cantando: “adeus
incerto ano”. Já esgotei todas as minhas listas de
filmes, fechei alguns livros densos demais, outros eu li e reli. A esponja do meu sofá afunda e confesso: ando até assistindo ao Vale a pena ver de novo: "Êta mundo bom". E os feriados nem me fazem falta! Também acho que não sei mais o caminho do trabalho, nem sei
mais meu horário de aula. Saudade dos sábados no 'Qualé Mané", mas o "Qualé Mané" fechou e só no que penso é onde irei quando tudo acabar? Às vezes sinto que
sou uma prisioneira à espera da assinatura do juiz para
sair por aí, distribuindo máscaras colecionadas ao
longo de 2020, um ano histórico, ora pela pandemia, ora pelo desgoverno
que só o que sabe fazer é desgovernar: acabar com direitos dos cidadãos,
contribuir para o aumento da desigualdade, empoderar violências mil e, o pior,
demonstrar um descaso imenso com o número de mortos que já passa de 100 mil
seres humanos. E “pracabá” ouvimos um: “tem que tocar a vida”.
Ontem, gente querida, adormeci com este texto
parcialmente pronto em minha cabeça e pensei em compartilhar com vocês para
diminuir nosso distanciamento afinal, as palavras são acalanto e cura. Sabem o
que me atormenta? As festas que perdi (por preguiça) quando podia sair, isso que eu confirmo
presença antes de ser convidada (nas que vou, né?), pois então, faço uma "promessa", se escapar
dessa pandemia, irei a todas as festas que me convidarem,
nem que tenha que ir a três em um único dia. Também procurarei fazer muiiiiitas
festas e dançar muiiiiito, então comportem-se em casa para que possamos nos
encontrar em breve. Por ora, como não tenho lágrimas de crocodilo, fico
por aqui rindo para não chorar.
São José, 11 de agosto de 2020.
quinta-feira, 7 de maio de 2020
Sobre fazer aniversário
quinta-feira, 16 de abril de 2020
Quebra-cabeça
sábado, 28 de março de 2020
Ressignificando o direito de ir e vir.
São José da Terra Firme, 28 de março de 2020.