domingo, 20 de setembro de 2020

Sobre Marias

 



Eu e Fátima Teles fomos convidadas para uma live do "Coletivo Mulheres que Escrevem", promovida, pela amiga e escritora em comum,  Ana Laurindo. Lá, trocamos Marias. Ela leu um trecho de seu livro "Lições de Maria", já eu li um de meus poemas do livro "De Choros e Velas". Marias ficcionais juntaram-se a outras Marias e filhas de Maria. Eu, do lado de cá, do sul do país, apoiada em Anita Garibaldi  e Antonieta de Barros, ela, do lado de lá, do nordeste, abraçada a Maria Tomásia, Maria Bonita e Maria Firmina dos Reis. Trocamos endereços e livros e nos reconhecemos em uma luta mais que feminina.

Moradora de Brejo Santo, Ceará, Fátima Teles é professora, assistente social, escritora e mestranda em  Políticas Públicas. Publicou também "Alumbramento", "A Cidade que  veio das Àguas" e "Brejo Santo: Revisitando o passado e construindo o presente" e hoje possui um canal no youtube em que apresenta e lê outros escritores, além de textos de sua autoria. Ler "Lições de Maria" (Fortaleza: Premius Editora, 2019) foi um acalanto. É uma leitura leve e necessária para antes, durante e após pandemia, afinal, no país inteiro, têm-se mantidos os casos de violência contra a mulher. 

Nove Marias empoderam a Maria professora que ensina a mulher a redescobrir-se. Enxerguei-me naquela Maria que, ao despertar, encontra força, espiritualidade, sabedoria, liberdade e aprende, com o silêncio e o tempo, a desapegar, não só de objetos, mas de pessoas, afinal, "ninguém é de ninguém". No livro, há Marias que se fragmentam para se consolidarem.  E Maria torna-se sincera e ela mesma, quando consegue discernir ilusão e realidade, mentira, falsidade e verdade. Passa a viver atenta e caminha sem olhar para trás. 

Como "tudo vale a pena quando a alma não é pequena", a Maria, da Fátima, de muitos sobrenomes e que está em cada uma de nós, é a construção de uma mulher que se  empodera, que chora com Clarice, no entanto, merece viver e amar como outra qualquer do planeta.  Com uma linguagem figurada e leve,  o feminismo perpassa, diria que até disfarçado na capa dura de tom lilás, pela luta que a mulher ainda tem que travar, primeiro com ela mesma, depois com o outro. Respinga, nas entrelinhas, um "se eu fosse eu", de Clarice Lispector, um "se", no livro, que  só se descobre lendo, porque "de boas intenções o inferno está cheio", não é mesmo, Maria de Fátima Araújo Teles?


São José da Terra Firme, 20 de setembro de 2020. 



4 comentários:

  1. Esse nome, Maria, por si é abençoado e pagão, ao mesmo tempo. Serve bem para ilustrar a luta da mulher. E da mulher brasileira, então...uma força que vem não sei de onde e que tem nos levado a tantos lugares! Fiquei curiosa pelos livros.
    Rosane, continue na tua luta de mulher e de escritora! Um abraço carinhoso

    ResponderExcluir
  2. Rosane Maria bem que podes ser chamada assim que de Maria das guerreiras e das de fortes e belas tens muito parabéns um grande beijo.

    ResponderExcluir
  3. Rosane, ler suas publicações é sempre um prazer,aquece a alma e realimenta o nosso gosto pela luta comum de um mundo mais feminino.

    ResponderExcluir
  4. Muito Bom! Quantas Marias há atrás de cada mulher? Muitas!!! Todas lindas a nos apoiar!

    ResponderExcluir