No
fogo, o feijão com as folhas de louro borbulha. O cheirinho se espalha. Lembranças
também borbulham em minha cabeça. No ano passado, minha irmã mais nova apareceu
lá em casa com alguns galhos de louro: "deixa secar e guarda" - me
disse. Ela se foi, e além da saudade, me deixou um saco cheio daquelas folhas
medicinais.
Impossível não me lembrar dela e de um
provérbio que nossa mãe falava com frequência: "vão-se os anéis e ficam os
dedos". Por isso, e por mais leveza, há um tempo iniciei sessões de
desapego. Olho pros armários e estantes, e, aos poucos, vou me desapegando.
Apesar de já ser desapegada, com o tempo passei a acumular, de roupas a livros.
Não raras as vezes me questiono sobre quem vai cuidar de minha biblioteca, e de
meu jardim? "Desapega, Rosane"- alguém sopra no meu ouvido.
E eu
venho desapegando cada vez mais, e os armários estão esvaziando. Tem sobrado
lugar na estante pra um livro novo. E a casa vai crescendo, acaba por se tornar
grande demais. Desculpem, amigas escritoras e amigos escritores, mas eu me liberto,
guardo com carinho na estante alguns livros que comprei ou ganhei autografados,
alguns já lidos, mas se faz necessário abrir espaço. Empresto, troco, doo, sem
problemas. Livros não são enfeites ou lembrancinhas, livros precisam circular,
precisam ser lidos pra que, de repente, se imortalizem. Eu me sinto orgulhosa
de encontrar meus livros em sebos. Meus
livros são livres pra encontrar um leitor.
Logo,
é necessário mudar de postura, pois a vida é um centro cirúrgico, e nunca
sabemos se sairemos de lá, e se voltaremos pra casa vivos. Minha mãe, que trabalhou uma vida, num
hospital, também falava sobre isso. Por isso temos que facilitar nossa vida, e
o planeta agradece.
Menos
coisas, menos bens materiais, pra sobrar mais espaço pra mais poesia, mais
música, mais viagens, mais boas lembranças, e mais energia. Sem entulhos, sem
apego a bens materiais, pois só precisamos mesmo é de uma muda de roupa que, às
vezes, nem escolhemos.
As
folhas de louro vão durar mais um tempo, as próximas talvez não tenham o mesmo
sabor daquelas plantadas e colhidas por minha irmã. Mas a vida é assim mesmo,
precisamos nos acostumar a novos sabores, novos cheiros, sendo o mofo sempre
dispensável.
Rosane Cordeiro
Belém, 01/06/2023.
Feliz é quem não se apega as coisas deste mundo
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