Cansado, mas apaixonado pelo trabalho. Se imaginasse que seus dias seriam tão divertidos, teria largado antes aquele serviço no banco. No uber, apesar do cansaço, das muitas idas e vindas, do trânsito infernal, os passageiros eram, a grande maioria, a garantia de um bom papo e, às vezes, diversão. Dirigir, conhecer pessoas e a certeza de não ter uma rotina são sua terapia. Naquele final de tarde de quarta-feira, Juliano resolve aceitar uma corrida para Santo Amaro da Imperatriz. Destino: capela São Miguel Arcanjo.
Entra no táxi uma senhora simpática cheirando a alfazema. Observa os cabelos curtos grisalhos, e as sombras rosas nos olhos que combinam com o casaquinho rosa bebê, com ombreira: "Boa tarde, senhora! O cinto, por favor". Ela retribui os cumprimentos e feliz acomoda-se no banco de trás. Pelo espelho, ele vê que ela ajeita-se, vez ou outra tira a máscara para passar o batom e olhar-se no espelho. Ele resolve puxar uma conversa: "Lindo dia de inverno, a senhora se incomoda de eu pôr uma música?" Ela lhe diz que não e ele coloca na rádio FM e segue pela BR 101, um pouco congestionada, mas até que tranquila no momento.
O waze o avisa para virar à esquerda, mas para a surpresa do motorista, a senhora lhe diz para seguir em frente, que o guiará. "Não é lá não?" - ele questiona e avisa que se mudar o trajeto, receberá uma notificação do uber, e que também será questionado sobre tal alteração. Ela sorri, certa do destino.
Passado um quilômetro, a senhora lhe pede que vire novamente à esquerda e, a seguir, à direita. Bingo! Eis que Juliano recebe um comunicado e alguém o questiona sobre o porquê de não estar ainda na igreja. A senhora conta-lhe que foi seu filho que chamou o uber, que às vezes é a filha, e que insistem naquele outro endereço. Para surpresa do motorista, do outro lado da linha, o filho da senhora retruca: "Ah! O senhor está deixando ela no bailão, né?"
"Seu destino à esquerda". Encerra a corrida e aguarda a saída da senhora que entra dançando naquela capela. Bem que ele sempre soube que a dança era uma forma de oração.
São José, 30 de agosto de 2021.
Muito bom!!! Amei Rosane!!! Beijus
ResponderExcluirCoisa boa uma crônica assim leve nestes tempos pesados que vivemos. ��
ResponderExcluirEspertinha kkkkkkk
ResponderExcluirViver com autonomia e bom humor acho que é um desejo de todos, né? Bjs querida Rosane.😘😘
ResponderExcluirEsta crônica "cheira a alfazema" de tão gostosa e leve.
ResponderExcluir"Quem não ouve a melodia acha maluco quem dança..." Oswaldo Montenegro
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